Lamentar ingratidão
Com a visão turva
Pouco de cada fato posso entender
Não sei se é malgrado meu
Ou se essa é a realidade
A vida tão penosa de maneira curva
É tão ruim o maldizer
Será que eu reclamo atoa do breu
Ou é efêmera essa sociedade?
Qual é o escopo da vida?
Palavras mal ditas
Palavras malditas
Eu não aguento mais!
Decreto meu cansaço de maneira sórdida
Eu não aguento mais ouvir fitas
Não trocam de lado, estão falidas
Eu cansei demais, estou perdida
Sou o exemplo podre da ingratidão
Ou tem realmente vida útil o coração?
Eu tenho de menos
Ou não sei reconhecer as boas partes?
Thábata Piccolo
Curitiba, Outono 2016
Desejo fétido
Escárnio da sociedade
Exemplo de discípulo infiel
Roga a praga
O corpo nu coberto de mel
É da malvadeza
Safadeza enrustida
Mente fétida, podre
Só penso na junção carnal
Sua a vaidade que escorre entre os dedos
Princípio da falta de fidelidade
Puxo o tapete para cair na cama
Brota o odor do gozo fértil
A mente por hora vaga em camas
Incertas, cada minuto uma diferente
Olho para você e penso besteira
Meus olhos vagam por teu corpo
Buscando a satisfação de um desejo
Sinto o cheiro da carne
E meu corpo aquecido
Minhas palavras soltas ao ar com malícia
E no meu consciente claras intenções
Você finge que não percebe
E eu disfarço minha sede
Se eu te pegar... que estrago!
Dalton Rios
Curitiba, Outono de 2016
Volúpia
Se eu não lhe amasse tanto
Pouco caso faria eu
Não adianta dissertar poemas de Bilac
Nem adianta seguir as sínteses de Foucault
Já o dizia, quando a riqueza é exacerbada
Algo errado só pode estar
É o mundo indo à baixo
Com tremenda voluptuosidade
O meu amor anda cabisbaixo
Pobres reis efêmeros, pouco podem pensar
Ninguém mais sabe o que é amar
Nesse mundo de giro capital
O que não traz lucro fica para trás
Mas a vida, bendita vida, anda para frente
Enquanto o tempo voa, quem não acompanhar
Para trás ficará
Essa é nossa sociedade
Triste realidade
Ninguém quer estudar
O lucro gira somente para quem o comanda
E as pessoas retrocederam no tempo
Já não sabem mais amar.
Thábata Piccolo
Curitiba, Outono 2016
Ele sabe que você fala alto pra chamar minha atenção
O coração acelera quando vê mensagem sua
Ele chora porque sabe que pouco irá durar
Digito a senha e amplio a sua foto só pra saudade passar
Eu gosto de blues não de sertanejo
Mas canto alguns versos quando te vejo por andar
Acordo penso em você, conto minutos pra te encontrar
Reparo nas roupas e no seu cabelo
Coisa linda de se ver dançar
Na minha mente invento um jeito pra te namorar
Sei que você se arruma pra eu reparar
Eu também me arrumo pra te ver babar
É declarado entre nós
Pena que não estamos a sós
Você gosta do meu cheiro no seu lençol
Gosta,não é?
E eu gosto do seu perfume de final de semana
Escrevo os versos sorrindo pensando em você
Mas que bobeira a minha!
Nem sei o que está fazendo agora
Me namora!
A vida é feita de escolhas, mas não quero te escolher
Você é bagunceira, folgada, não tem nada pra fazer
Eu sou organizado, trabalhador e só penso em te querer.
Breve amor, meu bem
Dalton Rios
Curitiba, Outono 2016
Quesito de vadiagem
Sumido dentre o espaço, desconheço o que tem ocorrido
Seria puro prazer e vaidade
Ou será que realmente estou apaixonado?
É querer viver de vadiagem
Ou meu coração é tão fraco?
Que turbilhão de sentimentos
O que está se passando?
Mero problema de autoestima
Ou pregação de peça do destino?
Agora, justo agora?
Creio que deva ser um tombo que a paixão irá me dar
Seria um coração fervente de paixão
Ou um coração iniciando a amar?
O que é que é
O que é que tem
Tudo tentando me derrubar
Queres saber de um grande fato?
Vamos transar!
Heterônimo
Dalton Rios
Curitiba, Outono 2016
O poeta
O poeta sofre sozinho lendo
Perde-se em sua própria escrita
Que reluz a dor e o amor da alma
O poeta se priva relendo
Suas meias palavras como se fosse uma obra literária
Não é qualquer junção de letras que acalma
O poeta desobedece regras
Não é soneto, haicai nem sátira
Ele escreve conforme der
O poeta anda por sob as pedras
E não se deixa levar por asneira
Nem sempre é fácil entreter
E conquistar a confiança
Sofre pela mudança
E nada esclarece o sentido
Se perde sem saber o motivo
E logo se vê com uma caneta e um pedaço de papel.
Thábata Piccolo
Curitiba, Outono 2016
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão
Esse comboio de corda
Que se chama coração
Fernando Pessoa
Com tantos rompantes e estouros
Eu sou uma pessoa áspera
Com medos e anseios
Sei que posso não ser das melhores, talvez até das piores
As vezes bruta
Com um simples olhar lanço a morte
Ainda assim, te considero uma pessoa de sorte
Apesar de tudo eu não vou enganar, nem trapacear
Pois meu coração não tem dúvidas do que é ou seria amar!
Thábata Piccolo
Curitiba, Outono 2016